Ferreira Gullar Foto: Ana Branco |
Quem nunca ouviu ou leu essa frase repetida por tantos?
Sim, foi a simplicidade e sapiência de um poeta, escritor, crítico de arte, biógrafo, ensaísta maranhense com o nome de nascimento José Ribamar Ferreira, mais conhecido por seu nome artístico: Ferreira Gullar, que a criou.
Até o dia de hoje, 04 de dezembro de 2016, Ferreira Gullar era considerado o maior poeta vivo da literatura brasileira. Morre neste dia o corpo, mas permanece imortal em suas obras. E que bom que toda sua dedicação e trabalho foi reconhecido a tempo de ser eleito imortal na Academia Brasileira de Letras, em 2014 aos 84 anos.
Poema Neoconcreto I - Ferreira Gullar Foto: Carla Camuso |
Imortalizado também na história da arte como um dos fundadores do Neoconcretismo, movimento artístico brasileiro surgido em 1959 com a publicação do manifesto Neoconcreto assinado pelo próprio Ferreira Gullar, Amilcar de Castro, Lygia Clark e outros. O movimento defendia a liberdade de experimentação, o retorno à expressividade e a subjetividade, já que o concretismo trouxe um certo tom de frieza ao aproximar a arte da industrialização, excluindo assim, o lirismo e simbolismo das obras.
Vale lembrar que Gullar, manteve acesa sua ideia de busca pela expressividade artística no decorrer dos tempos, visto que, por diversas vezes criticava a despreocupação com a linguagem e formas do movimento artístico contemporâneo:
(...) O acaso é, sem dúvida, um fator presente na realização de qualquer obra de arte mas, a partir da Renascença, quando os pintores buscaram a execução cada vez mais perfeita, esse fator foi sendo quase anulado. Na época moderna, chegou-se ao extremo oposto mas, num caso como noutro, o que se buscava era a beleza.
Isso é diferente de certo tipo de manifestação artística contemporânea, em que não há qualquer preocupação com o apuro da linguagem utilizada. Em alguns casos, pelo contrário, o autor parece buscar o primarismo e o mau gosto, como a nos dizer que arte e beleza são coisas velhas, ultrapassadas. ( Coluna de Ferreira Gullar na Folha de São Paulo, 21 de julho de 2013)
No campo literário, além da experiência neoconcreta, esteve a frente do movimento "poesia social" usando a palavra como um instrumento de denúncia pautada no cotidiano e nos problemas sociais e políticos:
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema
O preço do arroz
não cabe no poema
Não cabem no poema o gás
a luz, o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açucar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em seus arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras.
- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira.
A poesia quando chega
Não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos
Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relinha
Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça
E promete incendiar o país
Uma curiosidade: A canção "Borbulhas de Amor" cantada por Fagner é uma música do dominicano Juan Luis Guerra que teve sua versão em português escrita por Ferreira Gullar e se tornou uma das canções mais populares da música brasileira.
Enfim, Gullar nos deixa aos 86 anos. Sempre muito ativo, talvez ainda tivesse muito a dizer, porém, todo o seu legado foi mais do que suficiente para deixar o nome cravado na história.
Toda Poesia - Ferreira Gullar
Saudaçoes artísticas e poéticas
Carla Camuso🎨
Fontes:
http://carloslula.com/a-arte-existe-porque-a-vida-nao-basta/
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/ferreira-gullar-veja-repercussao-da-morte-do-escritor.ghtml
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3810/neoconcretismo
http://portugues.uol.com.br/literatura/poesia-social.html
http://www.record.com.br/images/livros
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