A Igreja sempre foi uma grande
patronesse para as artes. Estilos como o bizantino, românico e gótico da era
medieval são predominantemente ligados ao cristianismo e o mundo moderno
iniciado pelos renascentistas e barrocos, também tiveram uma grande parcela de
produção religiosa. O século XX chegou trazendo a pós modernidade e a Igreja
acompanhou as mudanças inclusive arquitetonicamente falando (a beleza plástica
da catedral de Niemeyer que o diga). Assim, não poderia ser diferente com a nova era...a nossa era...a era
digital, por ora denominada contemporânea.
E tudo se mescla.
Não se destrói o que foi feito e nem se
reproduz apenas as estéticas do passado, exceto quando se trata da temática,
que sempre estará vinculada à sua função didática numa igreja: catequisar os fiéis por meio
de histórias do novo e do velho testamento, além da vida dos santos.
Todo esse universo instrui os fiéis e
decora as igrejas por meio de imagens, pintadas, esculpidas, gravadas e
agora... projetadas em enormes telas de plasma.
Oi?
Não sabia disso?
Catedral de St.Paul (1632 a 1723) |
Pois bem, fiz essa introdução toda só
para trazer essa boa nova vinda de Londres, of course... Terra de príncipes e de
Banksy.
No dia 09 de setembro de 2016 a Catedral
de São Paulo (St. Paul) em Londres trouxe essa novidade
para o mundo das obras de arte religiosas afixadas nas igrejas.
São dois novos retábulos contendo vídeos
projetados em duas telas de plasma, colocados ao lado do altar
principal, elaborados pelo artista contemporâneo Bill Viola, conhecido como "Rembrant da era digital".
A temática versa sobre a Virgem Maria e
sobre os Santos Mártires.
Tríptico - Virgem Maria (Bill Viola) |
O tema da Virgem Maria e dos Santos
Mártires, são caracterizados conforme Violla "como dois profundos
mistérios da existência humana, como duas metáforas da vida e da morte".
Maria é, no seu papel e na sua figura de Mãe, símbolo do amor, criação e
conforto.
Todos os mártires, sem nenhuma especificação cronológica ou
étnica, são objetos e imagens de sofrimento, dor e sacrifício.
Como o artista
tem afirmado repetida e abertamente, o objetivo é realizar duas obras que
são capazes de interpretar os valores e conteúdos fundamentais em qualquer
caminho profundamente espiritual.
Os martírios são representados nos vídeos a partir dos quatro elementos: Terra, ar, fogo e água.
Tríptico - Santos Mártires (Bill Violla) |
Por outro lado, o tesoureiro da Catedral, Martin Warner diz que a intenção é realmente atrair mais visitantes em uma época de acentuada crise de fiéis que aflige a Igreja Anglicana, levando em conta que o artista americano é mundialmente conhecido.
Assim, considera-se que atrairá tanto os fiéis como os amantes de arte contemporânea especialmente os que visitam diariamente a galeria Tate Modern, localizada próximo a catedral.
Já
havia sido feito uma exposição neste local anos atrás com o mesmo viés, porém
de caráter temporário. E na época foi um grande sucesso superando a controvérsia que surgiu sobre a nudez de um
jovem protagonista do vídeo.
Agora é permanente. Os vídeos estão
instalados, funcionando diariamente e são desligados apenas nos momentos
litúrgicos pois o som é parte de sua composição.
Sobre esse fato, alguns
críticos dizem que é como se para as obras de vídeo contemporâneo fosse negado
o status de verdadeiras imagens religiosas, capazes de vincular os fiéis com o
divino como todas as outras.
Entretanto, a razão maior para a
diferença de tratamento entre as obras de Bill Viola não se limita apenas ao
seu formato. O tratamento iconográfico das
questões religiosas feito pelo artista também é algo a se pontuar, pois, o artista não poderia negar a essência da
contemporaneidade que é entrar em conflito com padrões estabelecidos para as obras de arte religiosas "tradicionais".
De acordo com Simona Dolari, as obras de Viola possuem movimentos
lentos, e, geralmente, sons e tempos que subvertem radicalmente o processo
tradicional por parte da visão do espectador: de sujeito passivo para sujeito ativo, livre para
organizar o tempo e ritmo de sua própria visão e de espectador de obra estática para espectador de obra dinâmica pois é
chamado para entrar no jogo pré idealizado do artista.
E muda também o espaço da obra: não mais
um espaço visual estático, mas um espaço plástico envolvente, em que a obra
rodeia e assedia o espectador através de suas impressões sensoriais e seus
próprios ritmos.
Entre abstração e representação, o
trabalho de Viola provoca questionamentos incessantes que, com a arrogância característica de uma grande obra de arte abre novas possibilidades mentais e
reestrutura os paradigmas que governam nosso pensamento e
nossa imaginação.
Pronto.
Mais um destino para minha peregrinação em busca da arte... já que, provavelmente não teremos acesso a esses vídeos tão cedo se não formos lá.
Saudações artísticas
Carla Camuso
Fontes de pesquisa:
Elmundo - http://www.elmundo.es/cultura/2016/09/13/57d7b6cce5fdea424d8b4620.html
Engramma: La
tradizione clássica nella memoria occidentale - Simona Dolari
Jornal Hoje - (Globo)Vídeo reportagem, visto em 15 de setembro de 2016
É maravilhoso ! Obrigada por compartilhar > parabéns ao artista.
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