domingo, 4 de julho de 2010

Impressionismo

Não é possível fixar com a extidão de um calendário o ponto de abertura de uma manifestação artística. A arte é uma corrente que vem do infinito. Nessa corrente, artistas e amadores - a humanidade, enfim - preferencias, sugestões, simples opiniões e questoes de gosto formam um anel, ora robusto ora frágil; e a corrente não para. Não é possível encontrar um episódio marcante a data de inauguração do impressionismo. Para os adeptos da cronologia,  fixou-se a data de 1874.
        Logo após a Guerra Franco-Prussiana de 1870, um grupo esporádico de artistas, geralmente recusados nos salões moldados na oligarquia acadêmica, apresentam, em telas caracterizadas por uma maneira não ortodoxa de ver e pintar, uma mensagem otimista da verdade, vibrante de luminosidade. Eles dão-se o título de Societé Anonyme des Artistes Peintres, Sculpteurs et Graveurs e organizam uma exposição. Sem lançar manifestos, sem produzir teorias abstratas, esses artistas não se pretendiam reformadores. na verdade, eles não buscavam uma inovação na técnica de pintar ou colocar em questão os preceitos acadêmicos que, apesar dos percalços vividos ao longo do Romantismo, ainda continuavam a representar o gosto oficial e popular. O que se pretendia, de fato, era subverter o ideal de beleza característico da estética acadêmica.
       O crítico Louis Leroy intitula seu artigo no jornal parisiense Charivari "Exposition des Impressionistes", extraido do título de um quadro de Monet: Impression, Soleil Levant. Do grupo, formado entre outros, por Degas, Sisley, Pissarro, Renoir e Berthe Morisot, Claude Monet é o evangelista, o teórico sem sabê-lo.
Claude Monet - The White Water Lilies

      O Impressionismo, com o passar do tempo, tornou-se uma palavra empregada para qualquer tentativa não enquadrável no academicismo. Cientificamente deve ser restrita a um grupo de poucos pintores e escultores, entre estes Degas e Medardo Rosso.
      Monet e seus companheiros, com a "impressão", encontraram outra maneira de fixar a luz numa tela, apontando naturalmente, novos elementos nessa pesquisa. Não será porém mais válida a de Seurat e dos pontilhistas e divisionistas? Quando os divisionistas punham em prática sua nova maneira de pintar, a pintura se alegrava com o nascimento de uma nova técnica, conjugada a uma série de fatores, não só culturais mas também aqueles motivados pela vontade de superar todos os empecilhos próprios das propostas estranhas ao ambiente. (Cada pintor tem sua técnica, desde Rafael até os adeptos da Action Painting, isto é, um arco que vai desde a perfeição olímpica da Renascença até a agressividade e a violência do dripping, o gotejar de Pollock, a tela estendida no chão, as cores caindo do tubo ou da lata, confiando mais no acaso do que nas intenções.)
     Os críticos, ou melhor, os cronistas, julgavam o Impressionismo como "esboços informes tão confusos que é preciso vê-los bem de perto e demoradamente para saber o que representam." Na verdade uma operação bastante contrária à maneira certa de se ver ma pintura: sempre a uma distância conveniente. Os impressionistas não queriam representar por meio do desenho e do claro-escuro, mas através de manchas. Uma atitude que lembra o músico que se manifesta em harmonias e timbres, dissolvências, esfumaturas que podem ser comparadas a toques de cor.
As reações eram normais, pois aceitar novidades, interromper um modo expressivo tradicional comum ao público acadêmico, constituía uma espécie de desagravo, até de ofensa.
A partir de 1880 inicia-se a primeira ruptura do grupo impressionista. No momento em que os impressionistas começam a receber os favores do público e da crítica, a nova técnica deixa de existir como movimento de vanguarda. Atingida a maturidade, cada elemento do grupo busca novos caminhos.
Seriam os impressionistas os preparadores da arte moderna?
Se o termo significa oposição ao antigo, e se por antigo se entende a tradição genericamente chamada acadêmica, a indicação é plenamente aceitável se admitirmos ainda que os impressionistas históricos tiveram como precursores os paisagistas ingleses que pintavam ao ar livre.


Fonte: BARDI, Pietro Bo. Impressionistas e Pós impressionistas . In Coleções Gênios da Pintura, Ed. Victor Civita, São Paulo,1984.

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